quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Coleção Meninos Especiais










A 22 de novembro no Museu da Eletricidade foram apresentados os três novos títulos da coleção “Meninos Especiais” da Associação Pais em Rede. Na continuidade dos seis títulos, anteriormente publicados, os personagens principais das estórias espelham uma viagem por cada criança com determinada problemática e a dinâmica na respetiva família.
Só o texto de Isabel Minhós Martins: “O fácil que é difícil e o difícil que é fácil” ilustrado por Vasco Gargalo, embora com base num caso real de Síndrome de Asperger, assenta num texto ficticio, assegurando desse modo o anonimato do personagem, bem como da família.  Cinco dedos de uma mão” de Rita Ferro, ilustrado por Rita Roquette de Vasconcelos, espelha a estória do Miguel que tem Síndrome de Morsier e conta a narrativa afetiva da família. “Que aventura ser Matilde” com texto de Rui Zink e ilustrado por Paula Delecave aborda a doença raríssima de Síndrome de Pitt-Hopkins.
Em todos eles, o objetivo comum de identificar características que espelham a diferença do ser humano. Um modo de revelar a rede de suporte desta associação de pais à sociedade em geral mas às crianças em particular, através de relatos simples, de modo que se constituam como facilitadores de inclusão.


Elvira Cristina Silva

RBTV: NBC relança "Espelho" traduzido em língua gestual







Timóteo Tiny Santos, músico há 20 anos, está à frente de uma pequena plateia, de olhos fechados, totalmente embrenhado nas notas que vai encaixando em cima do som do piano de cauda que o acompanha. A seu lado está uma rapariga cuja presença na linha da frente foge à normalidade, não é cantora nem toca nenhum instrumento. Sandra, tradutora de língua gestual, está a tentar acompanhar a letra com gestos apressados. Na plateia uma senhora tenta imitá-la, apesar de não conseguir ouvir nem uma nota proferida por NBC. Canta por gestos, com a felicidade de quem acaba de nascer para a música.
Estamos em Belém, na linha do horizonte cai um final de tarde perfeito de Outono e há um vai-vem de famílias a aproveitar o pouco que resta do fim-de-semana. Dentro do Espaço Espelho d’Água, à beira do Tejo, começam a chegar os primeiros convidados. O novo videoclipe de NBC está prestes a ser relançado mas não vemos o habitual público jovem, suburbano e descontraído que é a cara deste tipo de eventos. Pela faixa etária das pessoas que aguardam pelo início da palestra enquanto vão ocupando o tempo a avaliar as fotografias que João Tamura tirou durante o making of do vídeo poderíamos estar perfeitamente a aguardar o início da actuação de uma ópera. Então como surge esta ligação inesperada entre dois mundos aparentemente tão distintos? Através do terceiro single do álbum Toda a Gente Pode Ser Tudo, com estreia marcada para o próximo ano. Nele há NBC, voz imponente, em cima de um beat de Slow J e acompanhado pela ginga de Sir Scratch. O avanço primeiro saiu há cerca de um mês, mas agora chegou a vez de o relançar e de o tornar no primeiro vídeo de hip hop/soul interpretado para língua gestual.
O novo vídeo (ou a adição ao novo vídeo) de NBC é um pequeno grande passo para a comunidade surda e a Associação Portuguesa de Surdos (APS) quis estar presente neste marco. Experimentem ver um qualquer vídeo no YouTube sem som, observando as imagens a dançar no vazio, acompanhadas de um silêncio que perturba. É esta a normalidade de um deficiente auditivo: viver a vida sem banda sonora. Num mundo onde a música nos acompanha no carro, no supermercado, no café, no trabalho; onde a música é o combustível para unir multidões; onde a música se envolve nos momentos-chave da nossa vida; e até num mundo onde a música é o mote para paixões platónicas que deixam adolescentes à beira da histeria, a simples ideia de viver sem música é um cenário inimaginável. A língua gestual tem a capacidade de fazer a ponte comunicacional entre pessoas com deficiência auditiva mas a música ainda se imiscui de tentar chegar a este público.
Tornar esta música acessível a todas as pessoas que não a conseguem ouvir foi um passo tão simples que é impossível não estranharmos ninguém o ter feito antes. Ao lado do vídeo original, Sandra figura num quadrado branco, atarefada em traduções. Esta iniciativa “tem um impacto fabuloso” na comunidade surda, garante a própria ao Rimas e Batidas. “Nós já sabemos que a sociedade cria barreiras, eles têm a barreira do som” e esta é uma forma de os incluir na normalidade de quem consegue escutar. “Eles vão tentando sentir a música, nós cantamos para nós, eles imitam os gestos”, prossegue a tradutora, é a forma de cantarem. A inclusão é mesmo a palavra de ordem e NBC pretende “dar espaço para que outras pessoas existam” até porque “o rap às vezes é muito confinado a um espaço, a uma coisa”, conclui o rapper.
O rapper acompanhou o nascimento do hip hop em Portugal e tem-se mantido activo ao longo das últimas duas décadas, sendo que neste novo álbum parece ter alcançado uma maturidade que o coloca no ponto alto da sua carreira. Com tudo isto, é tempo de ensinar aos mais novos o que teve que aprender sozinho. O artista natural de São Tomé e Príncipe sublinha várias vezes a importância de sermos autodidactas. E se toda a gente pode ser tudo, hoje toda a gente pode ouvir tudo.
in: Rimas E batidas